SHEMA ISRAEL

Sinagoga Morumbi

Yeshiva Boys Choir -- Kol Hamispalel

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Rachel: Lágrimas de Uma Mãe Por Simon Jacobson

Rachel: Lágrimas de Uma Mãe Compartilhe Imprimir E-mail Opine (4) A história de nossa mãe Rachel, que morreu jovem, aos 36 anos, é uma das narrativas mais comoventes que se lê na Torá, e nos consola até os dias de hoje. Rachel começou a dar à luz. Seu parto foi extremamente difícil; ela estava morrendo, e ao dar o último suspiro, deu ao filho o nome Ben-oni (Filho da Minha Tristeza). O pai o chamou de Benjamin. Rachel morreu e foi enterrada na estrada para Efrat, agora conhecida como Bethlehem. Yaacov construiu um monumento em seu túmulo. É este monumento que encontramos até hoje no túmulo de Rachel (Bereshit 35:16-20). A triste morte de Rachel no parto, dando a vida pelo filho recém-nascido, iria personificar o papel histórico de Rachel como a mãe quintessencial que se sacrifica pelos filhos, no decorrer das eras, até o fim dos tempos. Por que nossa mãe Rachel foi enterrada na estrada e não na Gruta de Machpelá em Hebron, onde os quatro casais fundadores (Adam e Eva, Avraham e Sarah, Yitschak e Rivka, e mais tarde Yaacov e Leah) foram colocados para descansar? Hebron não é tão longe de Bethlehem. Por que Yaacov não fez o esforço extra para honrar sua amada esposa e conceder a ela a dignidade de um enterro adequado num local respeitável, ao lado de todos os Patriarcas e Matriarcas? O próprio Yaacov, em seu leito de morte, respondeu a essa pergunta, quando fez Yossef jurar que iria enterrá-lo em Hebron junto com seus pais: E eu, quando cheguei de Padan, Rachel morreu perto de mim na Terra de Canaã, na estrada, a pouca distância de Efrat; e eu a enterrei ali na estrada para Efrat, que é Bethlehem (Bereshit 48:7). Estou pedindo a você que tenha o trabalho de levar-me para ser enterrado na Terra [Santa]; embora eu não tenha feito o mesmo pela sua mãe. Ela morreu perto de Bethlehem… e eu nem sequer a levei a Bethlehem para trazê-la a [um local estabelecido na] Terra. Sei que há ressentimento em seu coração contra mim [por causa disso]. Mas saiba que foi por ordem Divina que a enterrei ali, para que ela fosse uma ajuda para seus filhos quando Nebuzaradan [da Babilônia] os exilasse e eles passassem por ali. Então Rachel ficará sobre seu túmulo e vai chorar e implorar misericórdia para eles, como está escrito (Jeremiah 31:14-16): “Uma voz é ouvida em Ramah, lamento e amargo pranto: Rachel está chorando pelos seus filhos e se recusa a ser confortada pelos filhos, porque eles estão longe. E D'us responderá a ela: Afaste sua voz do pranto, e seus olhos das lágrimas; pois sua obra será recompensada, diz D'us; e eles retornarão da terra do inimigo. Há esperança para o seu futuro; que seus filhos retornarão às próprias fronteiras” (comentário de Rashi sobre este versículo). Na verdade, as lágrimas maternais de Rachel foram reconhecidas por Yaacov quando ele a encontrou pela primeira vez. Quando Rachel a pastora apareceu com as ovelhas de seu pai, “Yaacov beijou Rachel e ergueu a voz e chorou” (Bereshit 29:9-11). Por que ele chorou? Porque anteviu que Rachel não seria enterrada ao seu lado (Rashi), para que ela pudesse chorar e implorar pelos seus filhos sofredores. Em outras palavras, ao colocar os olhos sobre Rachel pela primeira vez, Yaacov chorou por todas as lágrimas que Rachel iria derramar por seus filhos. Todo detalhe na Torá é perfeito e relevante em nossas vidas. Qual é o significado mais profundo de todas essas lágrimas – tanto as de Rachel como as de Yaacov? Falando praticamente, como a localização do túmulo de Rachel na estrada é “uma ajuda para seus filhos”? Sim, seus filhos exilados certamente foram consolados quando passaram pelo seu túmulo ao saírem de Jerusalém. Mas por que as lágrimas de Rachel são mais eficazes em seu túmulo na estrada do que seriam se ela tivesse chorado do túmulo em Machpelah? Acima de tudo, como nos ajuda hoje saber que Rachel jaz na estrada e chora pelos seus filhos, e que Jacob chorou ao pensar sobre isso? A resposta pode ser encontrada no livro do Tanya (capítulo 45), onde ele apresenta uma poderosa meditação sobre atingir consciência espiritual baseada na aplicação psico-espiritual de Rachel e Yaacov: Rachel é o atributo sobrenatural de Malchut – o poder da dignidade – a fonte de todas as almas. Yaacov é a dimensão de Tiferet – compaixão – despertando empatia pela traumática descida da alma ao universo material. Toda alma sobre a terra, explica o Tanya, começa sua jornada nos reinos espirituais, e dali é atirado no “exílio” num corpo físico e no universo que oculta a presença da alma e de todas as coisas espirituais. A centelha divina da alma é, na verdade, encerrada nos estreitos confins de nossa existência mundana, mesmo que a pessoa nunca transgrida, causando um profundo estado de dissonência espiritual e existencial. Muito mais então é o exílio espiritual quando nos tornamos entranhados em nosso comportamento narcisista e pensamento, fala ou atos não-refinados, que desalojam a alma divina, e por extensão a fonte Divina da alma, causando aquilo que é chamado de “Exílio da Shechiná”. Quanto mais ocupados ficamos com estímulos externos e a aquisição de riqueza, mais negligenciamos nossos filhos. Rachel manifesta e se identifica com este exílio espiritual de Malchut. Ela portanto pagou o preço ao morrer no parto, e então morando num túmulo solitário ao longo da estrada a fim de testemunhar o sofrimento de seus filhos. Enquanto seus filhos estiverem vagando e oprimidos, Rachel não pode encontrar qualquer descanso final, e permanece com eles “na estrada”. “Rachel chora por seus filhos e se recusa a ser consolada.” E qual é o papel de Yaacov neste processo? O Tanya explica que Yaacov representa compaixão – um método potente para despertar a alma exilada (e Shechinah) de seu deslocamento. Este, continua o Tanya, é o significado do versículo “E Yaacov beijou Rachel e ergueu sua voz e chorou.” “Yaacov – com seu sobrenatural atributo de Divina misericórdia (de Atzilut) – desperta grande compaixão por Rachel, a fonte de todas as almas. ‘E ele ergueu sua voz’ – para o alto, para a fonte das Mercês Mais Elevadas, para a fonte dos Treze Atributos Divinos da Misericórdia. ‘E ele chorou’ – a fim de despertar e trazer de lá, das ilimitadas mercês Divinas, compaixão abundante sobre todas as almas e sobre sua fonte, para erguê-las do exílio e uni-las na Unidade Mais Elevada da Divina Luz Infinita, ao nível de ‘beijos’, que é ‘o apego do espírito com espírito’, como está escrito, “Que Ele me beije com os beijos de Sua boca’, o que significa a união da palavra do homem que estuda Torá com ‘a palavra de D'us, ou seja, a halachá (lei).’ Assim também, tendo pensamentos de Torá, o pensamento mortal é unido com o pensamento Divino, e assim também, a ação mortal é unida com a ação Divina, através da observância ativa dos mandamentos e, em particular, da caridade e da bondade.” Simplificando, o grito de Yaacov e o beijo são um método que todos podemos empregar para nos despertar do sono espiritual. Ao ponderar sobre a descida radical da alma num corpo, podemos despertar um profundo senso de compaixão pela alma enclausurada. Como é triste ver uma alma gentil descer de suas alturas elevadas para as maiores profundezas da existência egoísta. Esta compaixão (de Yaacov) permite a Rachel ficar forte com seus filhos exilados. E finalmente as lágrimas de Rachel prevalecem: sua obra será recompensada, e eles retornarão da terra do inimigo. Há esperança para o seu futuro. Seus filhos retornarão às próprias fronteiras. Em termos psicológicos, Malchut (Rachel) é dignidade. Dignidade é o sentimento de confiança e segurança que vem de saber que você tem valor inerente e é indispensável, em virtude do fato de ter sido criado à imagem Divina. A antítese da dignidade é um senso de falta de valor, vergonha, insegurança, baixa autoestima, às vezes até o ponto de se autodepreciar. Uma mãe carinhosa instila no filho este sentimento de Malchut. Mais precisamente, ela não o instila; uma mãe sadia cultiva e alimenta a dignidade que é direito inato de toda alma. Quando há uma falta de carinho, a dignidade não é aniquilada; fica oculta. Em nosso mundo materialista com frequência somos distraídos pelos prazeres temporários, e nos esquecemos de que a responsabilidade mais importante é nutrir a majestade de nossos filhos. Isso é mais verdadeiro hoje do que nunca. Com nossa tecnologia e conforto cada vez mais acelerados, e um padrão de vida sem precedentes, irônica e paradoxalmente nosso nível de autoestima continua a diminuir. Quanto mais ocupados ficamos com estímulos externos e a aquisição de riqueza, mais negligenciamos nossos filhos. Quanto mais funcional é nossa vida externa, menos funcional é nossa vida interior. De todos os atributos, talvez o mais severamente prejudicado hoje seja o de Malchut, dignidade. Podemos encontrar muita sabedoria, compreensão, conhecimento, amor, disciplina, compaixão, ambição (até) humildade e vínculo; porém a dignidade pessoal está profundamente desalojada em nosso mundo disfuncional. Este é o “exílio de malchut” psicológico e da Shechina, a Presença Divina. Entra Rachel: Rachel, a quintessência da mãe de Israel, reside “na estrada” e sempre permanece conosco, através de nosso caminhar e nossa confusão. Todos esperamos e rezamos por uma mãe biológica (além de Rachel) que vai nos proteger e cuidar. Todos merecem isso. Mas mesmo quando abençoados com uma mãe saudável, devemos sempre lembrar que todos nós vivemos numa forma de “exílio espiritual’, em necessidade de nossa mãe Rachel. E mesmo quando somos privados de uma mãe carinhosa, jamais somos privados de Rachel, que sempre está vigilante, nos adorando incondicionalmente, então e agora – até o dia de hoje. Quanto mais funcional é nossa vida externa, menos funcional é nossa vida interior. Rachel chora por seus filhos. Como mãe de todos os filhos, ela nos assiste e chora conosco e por nós. Ela derrama uma lágrima por toda criança solitária, por todo jovem ou adulto sofredor. E estas não são meras lágrimas. São as lágrimas de uma mãe amorosa, lágrimas que regam as sementes de nossas alma ressecadas, permitindo que deem frutos: “Suas almas serão como um jardim regado, e elas não mais sofrerão” (Jeremiah 31:11). Todos nós devemos saber que independentemente dos esforços de nossa mãe biológica a nossa favor, não importa a maneira pela qual nossa dignidade é cuidada ou abusada, Rachel sempre permanece vigilante e não descansa. Quando surge o problema, ela intercede por nós. Podemos apenas imaginar se foram as lágrimas de Rachel que nos mantiveram vivos durante todos esses anos, permitindo que sobrevivêssemos apesar de todos os problemas. Sua compaixão – sobre si mesmo e pelos outros – ajuda nossa mãe Rachel dentro de cada um de nós a fazer sua obra. Como ativamos o amor materno de Rachel? Pensamos em nosso sofrimento, para não trazer sentimentos sobre depressão ou autocomiseração, mas para evocar compaixão: tenha alguma misericórdia sobre si mesmo. Sua bela alma, uma criatura elevada e delicada, está enjaulada em seu corpo grosseiro e no mundo impiedoso. Ela espera que você a reconheça. Abrace-a, beije-a, chore por ela e com ela – envolva-se em atividades (em pensamento, fala e ação) que cuidam da sua alma e lhe permitem ser real neste mundo. Até chegarmos ao nosso destino, quando sua obra será recompensada, e eles retornarão da terra do inimigo. Há esperança para o nosso futuro. Seus filhos retornarão às próprias fronteiras. POR SIMON JACOBSON Rabino Simon Jacobson é autor do campeão de vendas Rumo a Uma Vida Significativa: A Sabedoria do Rebe (William Morrow, 1995), e fundador e diretor do Meaningful Life Center. O conteúdo desta página possui copyright do autor, editor e/ou Chabad.org, e é produzido por Chabad.org. 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