SHEMA ISRAEL

Sinagoga Morumbi

Yeshiva Boys Choir -- Kol Hamispalel

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Quantos Amigos Você Tem? “Rebe, o que faz, exatamente? E por que é admirado por tantas pessoas?”

Por Mendel Kalmenson O jovem pensava em suicídio. Quando começou a externar seus sentimentos, dizendo a quem quisesse ouvir que sua morte era iminente, seus colegas da yeshivá convenceram-no a conversar com o Rebe, Rabi Menachem Mendel Schneerson, de abençoada memória, sobre seus planos. Numa yechidut (audiência privada) com o Rebe, ele fez exatamente isto. O Rebe ouviu, e lágrimas começaram a rolar pelo seu rosto. Após alguns minutos ali, vendo o Rebe chorar – o Rebe não disse sequer uma palavra – o jovem saiu da sala, profundamente abalado.
Ele disse aos amigos que não planejava mais dar fim à própria vida. Queria viver. Quando perguntaram o que acontecera na sala do Rebe, ele descreveu a reação do Rebe às suas palavras. E então concluiu: “Se pelo menos eu tivesse sabido que existe uma pessoa que se importa tanto comigo, jamais teria pensado em acabar com a minha vida…” “O que é um Rebe?” é uma pergunta que tem sido feita milhares de vezes. Mas quem melhor que um Rebe para responder? Este era exatamente o pensamento de um homem que se via sentado à frente do Rebe para uma audiência privada. “Rebe, o que faz exatamente? E por que é admirado por tantas pessoas?” “Tento ser um bom amigo,” disse o Rebe. Incrédulo, o homem explodiu: “Um amigo? Isso é tudo que faz?!” Imperturbável, o Rebe respondeu com uma pergunta: “Quantos amigos você tem?” “Tenho muitos.” “Deixe-me definir amigo para você, e então diga-me quantos amigos tem. Um amigo é alguém em cuja presença você pode pensar alto sem ter medo de ser prejudicado. Um amigo é aquele que sofre quando você sofre e fica alegre quando você se alegra. Um amigo é aquele que se preocupa com você, e sempre tem seus melhores interesses em mente. Na verdade, um verdadeiro amigo é como uma extensão de você mesmo.” O Rebe então perguntou com um sorriso: “E agora, quantos amigos como esse você tem?” Simples, mas profundo. E quão fortemente nos lembra do Midrash1 que nos diz que quando do nascimento de Moshê seu pai quis dar-lhe o nome – entre todos os nomes – Chaver, que significa amigo. Que nome apropriado para Moshê, o primeiro rebe da nossa nação. Tornar-se Um Rabi Herbert Weiner, autor de ‘Nove Místicas e Meia’, certa vez perguntou ao Rebe: “como assume responsabilidade pelos conselhos que dá às pessoas sobre todas as questões, incluindo negócios e assuntos médicos, especialmente quando sabe que seu conselho muita vezes é forçado?” O Rebe respondeu: “quando uma pessoa me procura com um problema, é assim que tento ajudá-lo. Um homem conhece melhor o próprio problema, portanto a pessoa deve tentar unir-se com ele e tornar-se batel, tão dissociado quanto possível do próprio ego. Então, em conjunto com a outra pessoa deve-se tentar entender o princípio da Divina Providência nesse caso específico.” Diz-se sobre Rabi Shmuel, o quarto Rebe de Lubavitch, que após receber pessoas em yechidut, ele precisava trocar de roupa, pois a roupa que tinha usado na yechidut invariavelmente ficava ensopada de suor. Certa vez ele explicou: “Nessa última hora, vinte pessoas vieram me ver. Para entender o dilema de cada uma delas, preciso despir-me da minha personalidade e circunstâncias e vestir a deles. Porém, eles vêm consultar não a eles mesmos, mas a mim. Portanto, preciso revestir-me em minha própria pessoa para poder aconselhá-los.” A intensa experiência mental e emocional de conectar-se plenamente com aqueles que o consultavam, a ponto de “perder-se” dentro deles e em seu bem-estar, era assustadora. Calçar os sapatos de outra pessoa é uma tarefa árdua e somente pode ser realizada com muito trabalho e amor. Como é apropriada a palavra usada para descrever a experiência de audiência privada com um rebe, yechidut, que literalmente significa “tornar-se um”. Conta-se que certa vez o avô de Rabi Shmuel – o Miteler Rebe, o segundo Rebe de Chabad – parou abruptamente de receber visitantes. De maneira inesperada, ele permaneceu encerrado em sua sala durante alguns dias, aparentemente envolvido num profundo conflito espiritual. Mais tarde naquela semana ele saiu, e as coisas voltaram ao normal. Numa revelação fascinante, o Miteler Rebe explicou: “sempre que alguém conversa comigo sobre assuntos espirituais, esforço-me para encontrar um resultado espiritual, embora num nível mais sutil, dentro de mim mesmo. Consequentemente, estando em ‘sua posição’, por assim dizer, posso buscar o remédio espiritual mais apropriado.” Ele continuou: “no começo dessa semana fui visitado por um indivíduo que buscava uma penitência por um pecado terrível que tinha cometido. Não importa o quanto eu tentasse, porém, não pude encontrar sua transgressão, nem mesmo remotamente, dentro de mim mesmo. Assim, não pude ajudá-lo. Após lutar com isso durante alguns dias, finalmente consegui ajudá-lo…” Empatia Certa vez, quando Rabi Shalom DovBer Schneersohn (que mais tarde atuou como o quinto Rebe de Lubavitch) e seu irmão, Rabi Zalman Aharon, eram crianças, eles brincaram com um jogo de “Rebe e Chassid”. Shalom DovBer tinha quase cinco anos na época; seu irmão era um ano e meio mais velho. Portanto, Zalman Aharon fez o papel de rebe, e Shalom DovBer desempenhou o de chassid. O “chassid” reclamou sobre uma deficiência em seu serviço espiritual pessoal, e o “Rebe” o aconselhou sobre como corrigi-lo. A isso o pequeno Shalom DovBer disse: “você não é um rebe!” “Por que não?” perguntou Zalman Aharon. “Um rebe,” disse a criança, “costuma dar um suspiro antes de responder...” Um rebe tem uma suprema empatia. A empatia não deve ser confundida com simpatia. Simpatia é sentir-se mal por alguém; empatia é sentir-se mal com alguém. Para ser exato: “Empatia é a capacidade de imaginar-se no lugar do outro e experimentar todas as sensações conectadas com ele.” Uma adolescente certa vez escreveu uma carta com várias páginas ao Rebe, na qual descrevia seu conflito interior e sua angústia. O Rebe respondeu à carta e escreveu, entre outras coisas, que sentia o sofrimento dela. Ela respondeu com outra carta e disse: “Rebe, não acredito em você. Como pode sentir meu sofrimento? Não está passando por aquilo que estou vivendo. O que quer dizer, quando fala que sente minha dor?” Após duas horas, o Rebe enviou esta resposta: “quando você crescer e se casar, o que vai acontecer, e se D'us quiser, for abençoada com um filho, a natureza das coisas é que durante o primeiro ano da criança ela começará a ganhar dentes. A dentição é dolorosa e a criança chora. E uma mãe sente aquela dor como se fosse sua.” O Rebe concluiu: “É assim que sinto sua dor.” Empatia de Moshê Mais uma vez nos referimos ao primeiro rebe, Moshê, cuja empatia era legendária. “Aconteceu naqueles dias que Moshê cresceu e saiu até seus irmãos e viu seus sofrimentos…”2 Segundo nossos Sábios,3 o dia da fatídica saída de Moshê foi o dia em que ele foi feito responsável por toda a criadagem do faraó. Após ser cuidado e protegido durante a vida inteira, naquele dia, pela primeira vez, ele saiu do ambiente almofadado do palácio ao qual estava acostumado para o mundo real, onde imperava a injustiça e o sofrimento era avassalador. Sobre as palavras “Ele saiu até seus irmãos e viu seus fardos” nossos Sábios comentam: “Ele concentrou seus olhos e seu coração para sofrerem com eles.” Enquanto ele passava pelos portões do palácio naquele dia histórico, Moshê tomou uma decisão consciente: não deixaria que seu estilo de vida opulento o impedisse de ver e empatizar com o sofrimento daqueles que eram oprimidos. Em vez de deixar o olho cego, ele “focalizou os olhos e o coração para sofrerem” com eles. O resultado dessa empatia mudaria o curso da história. Alguns anos depois, a esposa de Moshê concebeu um filho; “… e ele o chamou Gershon, pois ele disse ‘Eu era um estrangeiro (ger) numa terra estranha.’”4 Muitas vezes me pergunto sobre essa estranha escolha de nome. O fato de ele se sentir como um estranho a essa altura da vida – “Eu era um estrangeiro…” não seria algo que ele teria gostado de esquecer? Por que se apegar a lembranças de um passado desagradável? Fiquei preso num elevador antes, porém, não posso dizer que tenho vontade de chamar meu primogênito de “preso num elevador”! Mas é exatamente este o ponto. Moshê queria reter o sentimento de ser um estrangeiro. Ele queria lembrar-se de como é não fazer parte, ou ser obrigado pelos outros a sentir-se dessa maneira. Ele jamais quis perder sua capacidade de se identificar com o “estrangeiro numa terra estranha”. Educando Filhos Empáticos O ano era 1944. O Holocausto estava no auge, com os nazistas dedicados à completa destruição de nosso povo, D'us não o permita. No Brooklyn, em Nova York, na sede de Lubavitch na Eastern Parkway, 770, estava ocorrendo uma reunião não usual. O sexto Rebe de Lubavitch, Rabi Yosef Yitschak Schneersohn, tinha pedido aos seus secretários para reunirem os estudantes da yeshivá, pois ele desejava falar com eles pessoalmente. Eles esperavam ansiosos, incertos sobre o que viria. O Rebe, ele próprio uma vítima do cruel antissemitismo, começou gentilmente a contar às crianças um pouco do que estava acontecendo aos seus irmãos e irmãs na Europa. Ele terminou suas palavras tristes, ditas por um corpo doente e um coração partido, com um pedido. Ele disse aos meninos que naquela semana se abstivessem de conceder indulgências a si próprios, de forma a se identificarem, mesmo que em pequena escala, com a dor daqueles que estavam sofrendo terrivelmente.5 Na semana seguinte, ocorreu novamente uma reunião, na qual o Rebe reiterou o mesmo pedido, e então novamente na semana a seguir. Subsequentemente, porém, tais reuniões não foram mais necessárias; a essa altura os meninos tinham decidido continuar com suas resoluções por si mesmos. Ouvi essa história de um daqueles meninos, que hoje é um bisavô. Até hoje, ele disse, não consegue comer sorvete, o item específico do qual ele resolveu se abster quando tinha nove anos, em solidariedade àqueles que estavam sendo assassinados. Uma Tribo de Chefes Vivemos tempos difíceis. O nosso mundo é sofrido, constantemente bombardeado com manchetes gritantes sobre desastres naturais e não-naturais. Nossos corações são partidos, em seguida são partidos novamente. É tão difícil não sucumbir a sensações de apatia, letargia e indiferença, apenas para sobreviver. Afinal, quanta empatia um coração pode tolerar? A nossa é uma geração não de chassidim, mas de rebes. Por cima (ou por baixo) disso, o nosso é um mundo em desesperada necessidade de amigos, de amigos verdadeiros. As pessoas estão solitárias. Podem esconder isto, ou se distraírem, mas por dentro estão sofrendo. Elas querem amar e ser amadas. Chegou a hora de cada um de nós se tornar um rebe. NOTAS 1. Yalkut Shimoni, Êxodus 166. Veja também Midrash Rabbah, Levítico 1:3. 2. Êxodus 2:11 3. Tanchuma Yashan, Vayerá 17. 4. Êxodus 2:22 5. A noção de se abster do prazer numa época de sofrimento popular está enraizada na Torá. Um exemplo disso foi a proibição para Nôach e sua família de coabitarem enquanto estivessem dentro da arca, “pois o mundo estava mergulhado em sofrimento” (comentário de Rashi sobre Gênesis 6:18). Outro exemplo na Torá diz respeito a Yossef, cujos dois filhos nasceram para ele – como o versículo enfatiza – “antes que a fome se abatesse.” O motivo: porque “relações conjugais são proibidas durante uma época de fome” (veja Talmud, Taanit 11 a). Por Mendel Kalmenson O conteúdo desta página possui copyright do autor, editor e/ou Chabad.org, e é produzido por Chabad.org. Se você gostou deste artigo, autorizamos sua divulgação, desde que você concorde com nossa política de copyright.

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