SHEMA ISRAEL

Sinagoga Morumbi

Yeshiva Boys Choir -- Kol Hamispalel

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Ki Tissá




Dentre os muitos valores que podem nos motivar a seguir celebrando o Shabat, a parashá da semana nos encontra com o que talvez seja ao mesmo tempo o mais popular e o menos consciente. O mais interno e primário e ao mesmo tempo o menos comentado nos marcos intelectuais e rabínicos. Trata-se do valor nacional e tradicional do Shabat.



O Shabat tem antes de tudo um valor cósmico e religioso, pois é o dia no qual o cosmos parou - e junto com ele o próprio Deus. Mais tarde, os Dez Mandamentos acrescentaram os valores de harmonia familiar, harmonia natural e harmonia social do Shabat.



Nesta parashá, o livro de Êxodo nos traz mais um valor: o povo. O texto que cantamos no Shabat traz o Shabat à sinagoga: Veshamru benê Israel et haShabat... ledorotam brit olam: os filhos de Israel cuidarão do Shabat... através das gerações como um pacto eterno. Cuidamos do Shabat e nos vinculamos a todas as gerações do povo do Israel. Como fazemos o mesmo que os judeus fizeram por gerações, unimo-nos a eles através da prática do Shabat. O Shabat nos reúne assim com tempos passados, com pessoas que já não estão fisicamente conosco, inclusive com as que não conhecemos, de tempos imemoriáveis. O Shabat nos presenteia também com a oportunidade de nos vincularmos às gerações que virão após a nossa morte quando as motivamos a incorporá-lo em seus valores e práticas e assim serem incorporados no pacto eterno das gerações de Israel. O Shabat nos permite uma viagem no tempo.



O meio de transporte é o Shabat, mas o meio no qual o Shabat se movimenta são as gerações, as pessoas, o povo. É a união e identificação das gerações umas com as outras que permite nos transportarmos através do mar do tempo.



Um rabino contemporâneo explicava no congresso da WUPJ que no passado a realidade era sólida, pois sustentava verdades absolutas, princípios totais, formas e valores eternos. Hoje tudo muda rapidamente, o conhecimento, as leis, o que parece verdade. A realidade é “líquida”, menos firme, e a sustentabilidade nesse meio encontra-se na reunião das pessoas, na identificação entre as gerações, nas tradições que nos unem mesmo com desafios e perguntas sobre o quê e como conservar.



Albert Camus, Prêmio Nobel de Literatura que nasceu em família analfabeta, conta em suas memórias que sofria com a falta de dimensão histórica - que lhe dava falta de cultura - quase tanto quanto com a falta de alimento. Sentia-se solto, perdido no tempo e, portanto, sem tempo nem vínculos, sem passado nem futuro, numa vida que parecia não ter mais significado do que a de um animalzinho que apenas busca sustento, dorme, reproduz-se e morre. A memória, o pertencer a uma nação, nos brinda com a dimensão transcendental. As gerações nos sustentam e mantêm através de suas tradições e práticas.



Talvez seja a razão pela qual se sugeriu que não apenas os filhos de Israel cuidaram do Shabat, mas foi o Shabat que cuidou deles. Para muitas vítimas da Shoá esse cuidado pelo Shabat foi muito mais primário e profundo. Através dos valores de família, harmonia total e transcendência espiritual do Shabat, através da prática que manda estar feliz no Shabat, o Shabat os manteve humanos e vivos em meio à barbárie.



Shabat Shalom,

Rabino Ruben Sternschein
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