SHEMA ISRAEL

Sinagoga Morumbi

Yeshiva Boys Choir -- Kol Hamispalel

terça-feira, 16 de outubro de 2012

“Que Haja Luz!” Uma visão mais profunda

Por Jonathan Sacks Baseado nos Ensinamentos do Rebe Fonte: Licutê Sichot vol. X, págs. 7-12 Na narrativa da Criação, um detalhe nos intriga com a força do mistério: por que a luz foi criada antes de tudo o mais, quando não havia nada para se beneficiar dela? A explicação rabínica apenas aumenta o mistério, pois nos diz que a luz foi imediatamente “oculta para os justos no Mundo Vindouro.” O Rebe explica a dificuldade e elucida as implicações da narrativa da Criação para o indivíduo e a conduta de sua vida. 1 – A Primeira Criação “E D'us disse “Que haja luz, e houve luz.
”1 Este foi o primeiro dos pronunciamentos pelos quais D'us criou o mundo, e a luz foi a primeira de todas as criações. Mas por que foi assim? Pois a luz não tem valor por si mesma; sua utilidade depende da existência das outras coisas que são iluminadas por ela, ou que se beneficiam dela. Portanto, por que a luz foi criada quando nada mais existia? Alguém poderia dizer que esta foi simplesmente uma preparação para as coisas que mais tarde seriam feitas (na maneira que o Talmud2 diz que o homem foi criado por último para que tudo estivesse à disposição dele). Pois se é assim, a luz deveria ter sido criada pouco antes dos animais (que podem distinguir entre luz e escuridão), ou pouco antes das plantas (que crescem com a ajuda da luz), no terceiro dia da criação. 2 – A Luz Oculta Os Rabinos3 explicam que a luz feita no primeiro dia foi “oculta para os justos no Mundo Vindouro”. Porém isso é paradoxal. Como todo o propósito da luz é iluminar, por que teria sido escondida logo depois de ser criada; a própria negação de sua razão de ser? E embora os Rabinos tenham explicado por que a luz deveria ter sido escondida, ainda precisamos entender por que, se D'us previu isto, mesmo assim Ele a criou no início. Um outro comentário precisando de explicação é aquele do Zohar,4 dizendo que as palavras hebraicas para “luz” e “segredo” são numericamente equivalentes.5 A equivalência numérica é um sinal de que as duas coisas estão relacionadas uma com a outra (pois como as coisas foram criadas através das permutações das letras dos pronunciamentos Divinos, duas coisas cujos nomes são formados por letras do mesmo valor partilham uma forma essencial comum). Porém mais uma vez temos um paradoxo: a luz é, pela sua essência, uma coisa revelada, e um segredo é necessariamente oculto. Como podem dois opostos partilhar uma forma em comum? 3 – A Arquitetura do Universo Para resolver essas dificuldades devemos considerar uma declaração feita pelo Midrash:6 “Assim como um rei que deseja construir um palácio não o faz espontaneamente, mas consulta os desenhos dos arquitetos, também D'us olhou na Torá e criou o mundo.” Em outras palavras, examinando a ordem pela qual um homem começa a fazer algo que exige planejamento e previsão, podemos aprender algo sobre a ordem de D'us em trazer o mundo à existência. Primeiro, Ele fixa em Sua mente o propósito que Ele deseja que Sua obra atinja. Somente então começa o trabalho. Este, por assim dizer, foi o procedimento de D'us. E o propósito do mundo que Ele estava para criar (um local onde a luz Divina seria oculta7 nas pesadas mortalhas da existência material) era que deveria ser purificado e a luz pura de D'us restaurada. Ele procurou, em última análise, “uma morada nos mundos inferiores”8 significando que Sua ocultação (escuridão) seria transformada numa presença revelada (luz). Como então a luz era o propósito da criação, e o propósito é a primeira coisa a ser decidida na ordem de uma obra, a luz foi criada no primeiro dia. A intenção de todas as criações subsequentes foi captada naquela frase inicial: “Que haja luz”. 4 – A Luz Implícita Há, no entanto, uma alusão à luz em cada um dos dias subsequentes da criação. Pois cada dia de trabalho terminava com o pronunciamento “E D'us viu que era bom”. E a palavra “bom” alude à luz, como está escrito: “E D'us viu a luz9, que era boa.” Ocorre que a luz estava presente em cada dia da criação, mas como é possível, se a luz é o propósito da criação, e como tal explícita somente no final? A resposta é que o propósito se manifesta de suas maneiras: (i) explicitamente no início de uma obra; e (ii) implicitamente em cada estágio da obra, dirigindo cada esforço num padrão pré-arranjado, para que se conforme com o projeto original. Segue então que houve dois aspectos na luz primitiva: primeiramente quando foi revelada, como propósito da criação, no primeiro dia, antes de qualquer outra coisa existente; e em segundo, como era sentida indiretamente (e portanto somente sugerida) nos outros dias, modelando o restante da criação rumo à sua função. 5 – Revelação e Cumprimento Agora podemos entender por que o Zohar enfatiza a conexão entre “luz” e “segredo”, e por que o Rebe disse que estava oculta para os justos no Mundo Vindouro. Enquanto um prédio está em construção, sua forma final não está aparente, exceto na mente do arquiteto. Sua forma final é revelada somente quando a obra é completada. Assim foi com o mundo: somente quando tinha sido levado à sua perfeição, pelo nosso serviço durante os 6.000 anos10 que precedem o Mashiach, seu propósito (a luz) será revelado. A luz agora está oculta, mas no Mundo Vindouro (quando nosso serviço mundano terá sido completado) ela brilhará novamente como fez no primeiro dia. Mas tudo que está escondido, está escondido em algum lugar. Onde a luz está escondida? Os Rabinos dizem:11 na Torá. Pois assim como os desenhos de um arquiteto orientam as mãos do empreiteiro, a Torá nos guia – através do estudo e do cumprimento dos mandamentos – a modelar o mundo para a sua realização. 6 – Do Mundo ao Homem Cada pessoa é um microcosmo do mundo, e o destino do mundo é seu. Pois então essa ordem de história espiritual é também uma ordem de serviço individual. “Luz” é o propósito de cada judeu: transformar sua situação e ambiente em luz. Não meramente afastando a escuridão (o mal) evitando o pecado, mas transformando a escuridão em luz, comprometendo-se positivamente com o bem. E sua ordem deve ser aquela de D'us no ato da criação: primeiro deve formular Seu propósito. Imediatamente, quando acorda do sono (quando ele é uma “nova criação”12) – na verdade a todo momento, pois o mundo é continuamente criado de novo,13 ele deve reconhecer que sua tarefa é “Que haja luz.” Então ele deve deixar seu propósito estar implícito em cada uma de suas ações – alinhando-as com a Torá, o projeto da criação. 7 – Trevas em Luz Se a luz é o propósito de toda coisa criada, então deve ser também o propósito da própria escuridão. Pois a escuridão tem um propósito, não meramente deveria existir para ser evitada (deveria apresentart ao homem um escolha entre bem e mal), mas deveria ser transformada em luz. E se um homem às vezes se desesperar, na opressiva escuridão de um mundo desregrado,14 de fazer a luz prevalecer, ainda mais de transformar o mal em bem, ele é comandado desde o início: “No (ou em prol do) início, D'us criou…” E os Rabinos traduzem isto como: “Pelo bem de Israel, que são chamados “o princípio da produção de (D'us), e em prol da Torá, que é chamada “o princípio” do caminho (de D'us)”15 O mundo foi feito assim para que Israel através da Torá o transformasse na eterna luz da presença revelada de D'us, no cumprimento messiânico das palavras de Yeshayahu16: “O sol não será mais sua luz durante o dia, nem pelo brilho a lua lhe dará luz: Porém o Eterno será para ti uma luz eterna.” ImprimirEnvie esta página a um amigoCompartilhe isto ComentárioComentário NOTAS 1. Bereshit 1:3 2. Sanhedrin 31 a 3. Chagigah, 12 a. Bereshit Rabbah, 3:6 4. Parte III, 28 b 5. A derivação das associações de significado utilizando valores numéricos das letras hebraicas é conhecido como Guematria. Cf. o Tanya, parte II, cap. 1 6. Bereshit Rabbah, início. 7. “Mundo” e “oculto” são semanticamente relacionados em hebraico (olam-he’elam). 8. Cf. Tanya, parte I, cap. 36 9. Bereshit 1:4, cf Sotah, 12 a. 10. Correspondendo aos Seis Dias da Criação. 11. Midrash Ruth, em Zohar Chadash, 85 a. 12. Yalkut Shimoni sobre Salmos 13. Tanya, parte II, início 14. “Desperdício e vácuo, e escuridão estavam sobre a face da profundeza murmurante.” Bereshit 1:2. 15. Cf. Rashi, Bereshit 1:1. 16. Yeshayahu 60:19. Por Jonathan Sacks Lord Rabino Jonathan Sacks é Rabino Chefe da Grã-Bretanha e da Comunidade Britânica, além de famoso escritor e palestrante sobre Chassidismo. É fundador e diretor do Meaningful Life Center (Centro para uma Vida Significativa). O conteúdo desta página possui copyright do autor, editor e/ou Chabad.org, e é produzido por Chabad.org. Se você gostou deste artigo, autorizamos sua divulgação, desde que você concorde com nossa política de copyright.

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