SHEMA ISRAEL

Sinagoga Morumbi

Yeshiva Boys Choir -- Kol Hamispalel

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Ciência e Torá: Contraditórias? Por Nissan Dovid Dubov

Segundo a Torá, o mundo tem uns meros cinco mil e quinhentos anos de idade, e foi criado em seis dias. Certamente a ciência moderna prova que o mundo tem bilhões de anos e que o homem passou por um processo de evolução, dessa maneira arquivando a história bíblica de Bereshit? Pode-se seguir honestamente crenças religiosas antiquadas quando a ciência prova outra coisa? A definição de ciência e religião A ciência, numa definição ampla, significa conhecimento. Referimo-nos especificamente à ciência como o conhecimento certificado por meio de observação e experimentos, criticamente testado, sistematizado e classificado segundo princípios gerais. Para ser mais específico, deve-se distinguir entre a ciência empírica e experimental que lida e está confinada a descrever e classificar fenômenos passíveis de observação, e a ciência especulativa que trata dos fenômenos desconhecidos, às vezes fenômenos que não podem ser duplicados em laboratório. O termo "especulação científica" é na verdade uma incongruência, pois nenhuma especulação pode ser chamada de conhecimento no estrito sentido da palavra. Quando muito, a especulação científica pode apenas descrever teorias deduzidas de certos fatos conhecidos e aplicados ao âmbito do desconhecido. Religião significa uma crença em alguma coisa. Em termos de religião judaica, é a crença na natureza Divina da Torá – Torah min Hashamayim; que a Torá recebida por Moshê e dada ao povo judeu é de origem Divina e é a palavra de D’us. Assim sendo, a Torá é a sabedoria Divina, e como D’us é verdade, também Sua Torá o é. A Torá é chamada com freqüência de Torat Emet, que significa a Torá da verdade. A partir dessas duas definições vemos que a ciência formula e lida com teorias e hipóteses, ao passo que a Torá lida com verdades absolutas. Estas são duas disciplinas diferentes e uma "conciliação" é absolutamente impossível. A Torá está no âmbito da verdade do absoluto. Aquilo que a Torá diz é verdadeiro não porque foi provado cientificamente, ao contrário, é verdadeiro porque foi revelado por D’us. A ciência não lida com absolutos, e sim com fenômenos observáveis e produz princípios baseados em suas observações. A ciência de ontem e a ciência do amanhã No século dezenove a opinião prevalecente entre os cientistas e modernistas era que o raciocínio humano era infalível em deduções "científicas" e que ciências como Física, Química, Matemática, etc., eram a verdade absoluta, ou seja, não meramente verdades aceitas, mas a absoluta. Falando em termos judaicos, isso queria dizer o estabelecimento de uma nova idolatria, não de madeira e pedra, mas a veneração das ciências e filosofias contemporâneas. Na verdade, tendo em vista as opiniões dogmáticas e deterministas da ciência daquela época, foi criada toda uma literatura apologética por bem intencionados advogados religiosos e alguns rabinos que não viram outra maneira de preservar o legado da Torá em suas comunidades "esclarecidas", exceto reinterpretações tênues e deturpadas de determinadas passagens da Torá a fim de acomodá-las com a opinião prevalecente no mundo. Sem dúvida eles sabiam interiormente que estavam sugerindo interpretações da Torá que diferiam da Torat Emet, mas pelo menos eles acharam que não tinham outra alternativa. No século 20, porém, especialmente nas últimas décadas, a ciência finalmente se despiu das suas embalagens medievais e todo o complexo da ciência mudou. A presumida imutabilidade das chamadas leis científicas e o conceito de absolutismo na ciência em geral foram revogados e agora considera-se a opinião contrária, conhecida como "Princípio do Indeterminismo". Nada mais é certo na ciência, mas somente relativo ou provável, e os achados científicos são agora apresentados com considerável reserva e validade temporária, passível de ser substituída a qualquer tempo por uma teoria mais avançada. A maioria dos cientistas aceitou este princípio de incerteza – enunciado por Werner Heisenberg em 1927 – como sendo intrínseco a todo o universo. A atitude dogmática, mecânica e determinista do século 20 acabou. O cientista moderno não espera mais encontrar a verdade na ciência. A opinião atual e universalmente aceita é que a ciência deve se reconciliar com a idéia de que, qualquer que seja o progresso que ela faz, sempre estará lidando com probabilidades, não com certezas ou absolutos. Vejamos dois exemplos da metamorfose da descoberta científica. Há um versículo em Cohêlet 1:4, "A terra fica para sempre", que parece sugerir que a terra fica parada e o sol se move ao redor dela. Esta apresentação era inteiramente aceitável no princípio da era comum, especialmente quando, no segundo século, Ptolomeu aperfeiçoou a construção de Aristóteles sobre como o sol e os planetas se moviam ao redor da terra em órbitas circulares com rotação adicional ao redor de certos pontos nestas órbitas. Aquela opinião foi adotada por todos os cientistas e especialmente entre o clero religioso, que considerava a terra como o centro do universo. Cerca de 1.500 anos depois, Nicolau Copérnico fez uma revolução na astronomia, dizendo que a terra girava ao redor do sol. De repente esta nova descoberta científica jogou por terra toda a crença religiosa. Até hoje, na maioria das escolas, as crianças aprendem que a terra gira ao redor do sol e que este é um fato provado pela ciência. Sugerir de outra forma seria considerado não-científico. No entanto esta educação é preconceituosa, pois a teoria da relatividade de Einstein eliminou a idéia do espaço absoluto e do movimento absoluto. Segundo Einstein, a ciência em princípio não pode decidir se a terra fica parada e o sol gira ao redor dela, ou vice versa. No livro A Filosofia do Tempo, por Hans Reichenbach, um discípulo de Einstein, ele demonstra que todos os seguintes conceitos são claramente possíveis sob um ponto de vista científico: 1 – A terra fica parada e o sol gira ao seu redor. 2 – O sol fica parado e a terra gira ao redor dele. 3 – Ambos giram ao redor de um determinado ponto. Não há maneira de provar qual das alternativas acima é correta ou preferível. Para objetivos práticos é mais simples calcular eventos astronômicos se presumirmos que o sol está parado e a terra se move ao redor dele. O principal motivo de Copérnico era tornar mais fáceis os cálculos, mas esta não é uma razão suficientemente boa para atribuir "verdade" a este conceito. Desconsiderar o versículo bíblico que sugere que a terra fica parada é totalmente não-científico. O problema com o debate ciência versus religião é o que foi mencionado previamente – que a maioria das pessoas aceitava a descoberta científica como absoluta, o que impossibilitava e excluía a crença religiosa. Mesmo atualmente, anos depois da publicação da Teoria da relatividade, embora os cientistas aceitem a teoria em suas capacidades profissionais, eles a ignoram no contexto do debate filosófico, preferindo apoiar antigas idéias de absolutismo. Eles continuam a ser governados por pré-concepções ideológicas, cegamente opostas à Torá, que foram absorvidas em sua consciência desde a infância, mesmo quando estas pré-concepções contradizem o conhecimento profissional. Outro bom exemplo de uma teoria sempre em mutação é aquela da luz. Os antigos gregos desenvolveram uma teoria "corpuscular" da luz, i.e., que a luz é um fluxo de minúsculas partículas emanando de uma fonte e se movendo linearmente em todas as direções. A teoria da óptica geométrica foi desenvolvida com base nesta presunção. Esta teoria serviu com sucesso a humanidade durante séculos, para desenhar e construir lentes, prismas, espelhos planos e curvos, auxiliares para a visão, e mais tarde os microscópios, telescópios e outros sistemas ópticos. Descobriu-se então que a luz também segue um movimento ondulado e portanto isso foi reinterpretado como ondas eletro-magnéticas com um comprimento de onda muito curto. Cientificamente, a teoria corpuscular desenvolveu-se numa teoria de ondas. No início do século 20, Albert Einstein sugeriu que, na verdade, a luz possui uma natureza dual, i.e., a unificação, em uma entidade, de dois conceitos opostos de uma partícula de matéria e de um movimento de onda. Esta nova idéia tornou-se a base da fundamental teoria da mecânica quântica. É interessante notar que a Cabalá usa a luz como metáfora para o poder de D’us. Fala em termos de Or Ein Sof – a luz Infinita. Um dos princípios da fé é que D’us é onipotente e pode encerrar opostos. O fato de a luz possuir uma natureza dual e poder carregar um oposto a transforma na perfeita metáfora para a Divina energia. Neste terceiro estágio do desenvolvimento da teoria da luz, fica claro que esta unificação de dois conceitos sublinha a unidade de D’us dentro da Criação. (veja O Rebe de Lubavitch sobre Ciência e Tecnologia", pelo Professor Herman Branover em B’Or Ha’Torah, vol. 9). A idade do universo Um problema que incomoda a muitos é esta contradição aparentemente irreconciliável: a ciência alegando que o mundo teria bilhões de anos e a opinião da Torá de que o mundo tem 5765 anos de idade (na data deste artigo). Além disso, esta contradição tem levado alguns cientistas religiosos bem-intencionados a re-interpretar as passagens de Bereshit dizendo que os dias da Criação referem-se a períodos ou eras, e não a dias comuns. Eles sugerem que como o sol, a lua e as estrelas apenas estiveram "pendurados no céu" no quarto dia da Criação, portanto o dia de 24 horas não poderia ter existido até pelo menos o quarto dia. Além disso, alegam eles, se alguém atribuísse vastos períodos de tempo a cada um dos dias da Criação, todas as teorias da evolução e o Big Bang poderiam se encaixar muito bem com a Torá. No entanto, esta interpretação entra em conflito com o mandamento do Shabat – uma mitsvá considerada por nossos Sábios como equivalente à toda a Torá. Pois, se alguém pegar as palavras "um dia" fora do contexto e significado puro, na verdade anula toda a idéia do Shabat como o sétimo dia declarada no mesmo contexto. A idéia da observância do Shabat está baseada na declaração clara e inequívoca da Torá: "Pois em seis dias D’us fez o céu e a terra, e no sétimo dia Ele cessou o trabalho e descansou." – dias, não períodos. Como foi mencionado previamente, estas tentativas de re-interpretar a Torá são, obviamente, o legado anacrônico do século 19. Hoje em dia não existe justificativa para perpetuar este "complexo de inferioridade". Certamente não há bases para se apegar a opiniões que foram eliminadas dos livros escolares sobre ciência. É lamentável pensar que aqueles que deveriam ser os campeões da opinião da Torá e seus advogados, especialmente entre a juventude judaica em geral e a juventude acadêmica em particular, são tímidos ou até envergonhados para postulá-la. O exposto acima não tem a intenção de diminuir a ciência ou o método científico, ao contrário, deve haver uma diferenciação entre a ciência efêmera e as teorias extraídas da especulação científica. Isto contrasta com a Torá, que é eterna e imutável. Quando a Torá é modificada ou alterada por motivo de concessão, seja a qualquer extensão, deixa de ser verdade. E a verdade permanece a mesma para todas as pessoas e para todos os tempos. Se alguém aceita a eternidade da Torá, e isso pode apenas ser com base de Torah min Hashmayim, então seria absurdo dizer que, embora a Torá tenha sido dada por D’us, os tempos mudaram, como se o Criador e Governador do universo não pudesse ter previsto que haveria um século 21 quando determinados grupos de pessoas, como os cientistas ou "modernistas", estariam inclinados a aceitarem apenas uma Torá comprometida, não a Torá da verdade. Vamos examinar mais de perto os métodos empregados pelos cientistas para descobrirem a idade do universo. A ciência tem dois métodos gerais de dedução: 1 – O método da interpolação (para distinguir da extrapolação), por meio do qual, conhecendo a reação sob dois extremos, tentamos deduzir qual poderia ser a reação a qualquer ponto entre os dois. 2 – O método da extrapolação, por meio do qual são feitas deduções além do alcance conhecido, com base em certas variáveis dentro do alcance conhecido. Por exemplo, suponhamos que conhecemos as variáveis de um determinado elemento dentro de uma variação de temperatura de 0 a 100 e, baseados nisso, estimamos como seria a reação a 101, 200 ou 2.000. Dos dois métodos, o segundo é claramente o mais incerto. Além disso, a incerteza aumenta com a distância do alcance conhecido e com o decréscimo desse alcance. Assim, se o alcance conhecido está entre 0 e 100, nossa dedução a 101 tem uma probabilidade maior que a 1001. Vemos logo que todas a especulação sobre a origem e idade do mundo vem dentro do segundo método, mais fraco. A fraqueza se torna mais aparente se tivermos em mente que uma generalização inferida a partir de um antecedente conhecido para um antecedente desconhecido é mais especulativa que uma inferência de um antecedente para um conseqüente, como pode ser demonstrado de maneira muito simples. Quatro dividido por dois é igual a dois. Aqui o antecedente é representado pelo dividendo e pelo divisor, e o conseqüente pelo quociente. Conhecer o antecedente neste caso nos dá um resultado possível – o quociente – número dois. No entanto, se pudéssemos saber o resultado final, ou seja, o número dois, a resposta permite diversas possibilidades, às quais se chega por métodos diferentes: 1 + 1 = 2, 4 – 2 = 2, 1 x 2 = 2, 4 : 2 = 2. Note que se outros números entrarem na conta, o número de possibilidades nos dando o mesmo resultado é infinito (pois 5 – 3 = 2, 6 – 4 = 2, etc., ad infinitum.) Acrescente a esta outra dificuldade que prevalece em todos os métodos de dedução. As conclusões baseadas em certos dados conhecidos, quando estendidas para áreas desconhecidas, somente podem ter validade com a presunção de "tudo mais é igual", o que equivale a dizer, numa identidade de condições prevalecentes e sua ação e contra-ação uma sobre a outra. Se não pudermos ter certeza de que as variações ou mudanças teriam ao menos uma relação próxima em grau com as variáveis existentes, se não pudermos ter certeza de que as mudanças terão qualquer semelhança da mesma espécie, se, além disso, não pudermos ter certeza de que não houve outros fatores envolvidos – tais conclusões de inferências são completamente inválidas! Para ilustrar melhor numa reação química, seja de fissão ou de fusão, a introdução de um novo catalisador no processo, mesmo que em quantidade ínfima, pode mudar todo a duração e forma do processo químico ou começar um processo inteiramente novo. Ora, toda a estrutura da ciência é baseada em observações das reações e processos no comportamento de átomos em seu estado atual, como eles existem na natureza. Os cientistas lidam com aglomerações de bilhões de átomos quando estes já estão juntos, e como eles se relacionam com outras aglomerações de átomos já existentes. Os cientistas sabem muito pouco sobre os átomos em seu estado puro – como um único átomo pode reagir sobre outro único átomo num estado de separação – muito menos sobre como partes de um único átomo em quantidades mínimas; algumas delas elementos com potência catalisadora das quais pouco se conhece. 3 – A formação do mundo, se aceitarmos estas teorias, começou com um processo de coligação (união) de átomos separados, ou componentes do átomo, e sua conglomeração e consolidação, envolvendo processos e variáveis totalmente desconhecidos. Em resumo, de todas as teorias "científicas" fracas, aquelas que tratam da origem do cosmos e sua data são, como é admitido pelos próprios cientistas, as mais fracas de todas. Não admira que (e isso, por acaso, é uma das refutações óbvias destas teorias) as várias teorias "científicas" sobre a idade do universo não apenas se contradigam entre si mas, em alguns casos, sejam incompatíveis e mutuamente exclusivas, pois a data máxima de uma teoria é menor que a data mínima de outra. Se alguém aceitar tal teoria sem criticá-la, isso pode apenas levá-lo a um raciocínio errôneo e inconseqüente. Considere, por exemplo, a assim chamada teoria evolucionária da origem do mundo, baseada na presunção de que o universo evoluiu a partir de partículas atômicas e sub-atômicas existentes que, através de um processo evolutivo, se combinaram para formar o universo físico e nosso planeta, no qual a vida orgânica de certa forma se desenvolveu, também por um processo evolutivo, até surgir o homo-sapiens. É difícil entender por que alguém deveria realmente aceitar a criação de partículas atômicas e sub-atômicas num estado – que é francamente incognoscível – e inconcebível – porém ficar relutante para aceitar a criação dos planetas, ou organismos, ou um ser humano como sabemos que existem. O argumento da descoberta dos fósseis de maneira alguma é uma prova conclusiva da grande antiguidade da terra, pelas seguintes razões: 1 – Em vista das condições desconhecidas que existiram nos tempos "pré-históricos", como já mencionado – condições que poderiam ter causado reações e mudanças de natureza e tempo inteiramente diferentes daquilo que se conhece atualmente sobre os processos da natureza – não se pode excluir a possibilidade de que os dinossauros existiram há 5.000 anos e se fossilizaram sob formidáveis cataclismos naturais no decorrer de alguns poucos anos, em vez de em milhões de anos, pois não temos medidas ou critérios de cálculos concebíveis sob estas condições conhecidas. 2 – Mesmo supondo que o período de tempo que a Torá dá para a idade do mundo seja curto demais para a fossilização, pode-se aceitar prontamente a possibilidade de que D’us criou os fósseis, ossos ou esqueletos (por razões somente conhecidas por Ele), assim como ele pôde criar organismos vivos prontos, um homem completo, e outros produtos prontos como o petróleo, carvão ou diamantes, sem qualquer processo evolutivo. Quanto à pergunta, se o último raciocínio é verdadeiro, para começar, porque D’us teve de criar os fósseis? A resposta é simples: não podemos saber o motivo pelo qual D’us escolheu esta maneira de criar em preferência à outra e, qualquer que seja a teoria da criação aceita, a questão ainda continuará não respondida. A pergunta "Por que criar um fóssil?" não é mais válida que a pergunta "Por que criar um átomo?" Certamente, este tipo de pergunta não pode servir como um argumento sólido, muito menos como base lógica para a teoria da evolução. Que base científica existe para limitar o processo criativo somente a um processo evolucionário, começando com partículas atômicas e sub-atômicas – uma teoria repleta de lacunas inexplicadas e complicações – enquanto se exclui a possibilidade da criação segundo a narrativa bíblica? Pois, se esta possibilidade for admitida, tudo se encaixa certinho num padrão e toda a especulação sobre a origem e idade do mundo se torna desnecessária e irrelevante. Certamente não se pode questionar esta possibilidade dizendo: Por que o Criador deveria criar um universo completo, quando teria sido suficiente para Ele criar um número adequado de átomos ou partículas sub-atômicas com poder de coligação e evolução para se desenvolverem na atual ordem cósmica? O absurdo deste argumento se torna ainda mais óbvio quando se transforma na base para uma teoria frágil como se estivesse baseada em argumentos sólidos e irrefutáveis, afastando todas as outras possibilidades. Evolução Antes de mais nada, precisamos declarar que a teoria da evolução não aparece na narrativa da Torá sobre a criação. Mesmo que esta teoria fosse substanciada e a mutação das espécies ficasse provada em testes de laboratório, mesmo assim isso não iria contradizer a possibilidade de o mundo ter sido criado conforme o relato da Torá, em vez de pelo processo evolutivo. E ainda mais, como toda esta teoria é altamente especulativa e, embora durante os anos de pesquisa e investigação desde que a teoria foi primeiro apresentada, tenha sido possível observar certas espécies de animais e plantas com um curto período de vida no decorrer de milhares de gerações, mesmo assim jamais foi possível estabelecer uma transmutação de uma espécie para outra, muito menos transformar uma planta em animal. Tal teoria não pode ter lugar no arsenal da ciência empírica. A teoria da evolução é um exemplo típico de como uma teoria altamente especulativa e fraca cientificamente capturou a imaginação das massas e tem permitido a elas desconsiderar a narrativa bíblica, apesar do fato de que a teoria não foi substanciada cientificamente e não tem qualquer verdadeira base científica. É quase como se os cépticos estivessem procurando uma razão para desacreditar. Seu axioma equivocado era que a Torá está errada e eles precisavam de alguma teoria em substituição. A evolução era perfeita. Fornecia uma teoria da criação sem D’us e estimulava a tendência ateísta. Na verdade, é altamente não-científica; a ciência pura deve estar baseada em dados efêmeros. A natureza humana também afetou o debate. Embora as várias teorias tentando explicar a origem e idade do mundo sejam fracas, estão adiantadas porque é uma questão de natureza humana buscar uma explicação para tudo em seu ambiente e qualquer teoria, mesmo que absurda, é melhor que nenhuma, pelo menos até que uma explicação mais plausível possa ser engendrada. Alguém poderia perguntar por que, na ausência de uma teoria mais sólida, a narrativa bíblica não é aceita pelos cientistas? A resposta novamente será encontrada na natureza humana. É uma ambição humana natural ser inventivo e original. Aceitar a narrativa bíblica priva a pessoa da oportunidade de mostrar engenhosidade analítica e indutiva. Portanto, desconsiderando a narrativa bíblica, os cientistas devem criar motivos para justificar isso, e se refugiam em classificá-la como mitologia primitiva e antiga, pois não pode ser discutida com base científica. Convergir, não divergir Com o passar do tempo, a ciência descobrirá realmente as verdades da Torá. Em vez de serem vistas como divergentes, a ciência e a religião estão convergindo. Há uma história sobre um grupo de cientistas que estava subindo a montanha da criação. Quando chegaram ao cume, encontraram um rabino sentado, estudando. Ele levantou os olhos do livro e disse aos perplexos cientistas: "Eu falei que era verdade!" Este fato foi previsto pelo antigo texto cabalista, o Zôhar. Sobre o versículo em Bereshit 7:11: "No seiscentésimo ano da vida de Nôach… todas as fontes de grande profundidade se abriram e as janelas do céu foram abertas", o Zôhar comenta: No seiscentésimo ano do sexto milênio, os portões da sabedoria do alto serão abertos, assim como as fontes de sabedoria de baixo, e o mundo estará preparado para ser elevado no sétimo milênio. O Zôhar predisse que no ano hebraico de 5600, que corresponde ao ano 1840 da EC, haverá grande desenvolvimento tanto na sabedoria do alto quanto na sabedoria de baixo. A sabedoria do alto refere-se ao conhecimento esotérico no qual revelações importantes foram feitas na disseminação da Filosofia Chassídica a partir daquele ano. É bem conhecido o fato de que o fundador do Movimento Chassídico, o Báal Shem Tov, certa vez, através de misteriosos meios cabalistas, entrou no palácio celestial de Mashiach e perguntou a ele: "Quando o Mestre virá?" Mashiach respondeu: "Quando os mananciais dos teus ensinamentos estiverem largamente difundidos." Os principais desenvolvimentos nos ensinamentos e disseminação do Chassidismo que ocorreram depois do ano 1840 são um verdadeiro cumprimento daquela indicação. A sabedoria de baixo refere-se aos grandes avanços na ciência, que também começaram por volta daquela época. As grandes revoluções industriais, que ocorreram em meados do século 19, abriram caminho para os grandes avanços tecnológicos dos anos recentes. A conexão entre estas duas sabedorias é que elas convergirão. Na Era Messiânica, está profetizado que (Yeshayáhu 40:5), "… a glória de D’us será revelada, e toda a carne verá junta que a boca do Eterno falou." Como uma preparação para a revelação messiânica, haverá uma explosão na descoberta científica, revelando a verdade da sabedoria esotérica da Torá. De fato, as descobertas nas ciências naturais tem jogado uma nova luz sobre as maravilhas da criação e a tendência moderna tem sido rumo ao reconhecimento da unidade permeando a natureza. De fato, a cada avanço da ciência, a unidade subjacente no mundo físico tem se tornado mais claramente perceptível; a tal ponto, que a ciência está agora procurando a fórmula ideal que englobará todos os fenômenos do mundo físico em uma única equação abrangente. Com um pouco mais de percepção, pode ser visto que a unidade na natureza é o reflexo do verdadeiro monoteísmo em seu conceito judaico. Pois, como os judeus concebem o monoteísmo, não é apenas a crença de que há um único D’us, mas que a unidade de D’us transcende também o mundo físico, de modo que há apenas uma única realidade, ou seja, D’us. De fato, o princípio da unidade é a essência do Judaísmo – pois Avraham primeiro proclamou o monoteísmo num mundo de idolatria – que atingiu a plenitude na revelação no Monte Sinai. Pois o verdadeiro monoteísmo, como professado por nós, não é somente a verdade de que há apenas um único D’us e ninguém como Ele, mas que não há "nada além d’Ele" (Ein Od); ou seja, a negação da existência de qualquer realidade, exceto D’us, a negação do pluralismo e dualismo, até mesmo da separação entre o material e o espiritual. Como foi notado previamente, quanto mais avançam as ciências físicas, mais a pessoa se aproxima do princípio de unidade, até mesmo no mundo material. Antes, era a opinião aceita que a pluralidade e o composto no mundo material seriam reduzidos a algumas centenas de elementos e entidades básicos, e as forças e leis físicas foram consideradas como sendo separadas e independentes, para não mencionar a dicotomia entre a matéria e a energia. No entanto, nos anos recentes, com o avanço da ciência, os elementos básicos foram reduzidos a diversos maus componentes elementares dos átomos – elétrons, prótons e nêutrons – e mesmo esses foram imediatamente qualificados como não sendo os supremos "blocos" de matéria, até que se descobriu que a matéria e a energia eram redutíveis e conversíveis uma na outra. É bem conhecido que o Báal Shem Tov ensinou, e Rabi Shneur Zalman de Liadi explicou e ampliou, que cada detalhe na experiência humana é uma instrução no serviço do homem a D’us. Assim, aquilo que foi dito acima sobre o avanço da ciência exemplifica também o progresso do avanço humano no serviço de D’us. O homem possui dois elementos aparentemente contraditórios, não menos compatíveis que a incompatibilidade da matéria e espírito, cuja contrapartida no mundo físico é matéria e energia, ou seja, a alma Divina e a alma animalesca. Ou, num nível inferior, o yetser tov (boa inclinação) e o yetser hará (má inclinação). Porém esta incompatibilidade é evidente apenas no estágio infantil de progresso no serviço Divino, comparado à pluralidade dos elementos e forças que se presumia existir na natureza física. Assim como a apreciação da unidade subjacente da natureza cresceu com o avanço da ciência, também a perfeição no serviço Divino leva à percepção da unidade essencial na natureza humana, a tal ponto que o yetser tov e o yetser hará se tornam um só, através da transformação do yetser hará em yetser tov, pois caso contrário, obviamente, não pode haver unidade e harmonia, pois tudo que é sagrado, positivo e criativo não pode viver em paz e ser subserviente àquilo que é profano, negativo e destrutivo. E nesta unidade conquistada o judeu proclama: "Ouve, ó Israel, o Eterno é nosso D’us, o Eterno é Um." Isto é também o que nossos Sábios quiseram dizer quando falaram que as palavras "E amarás o Eterno teu D’us de todo o coração" (as palavras logo em seguida ao Shemá) significam: amar a D’us com tuas duas inclinações, o yetser hará e o yetser tov. Conclusão: A intenção deste artigo não é fazer aspersões sobre a ciência ou desacreditar o método científico. A ciência não pode agir a menos que aceite certas teorias ou hipóteses, mesmo que não possam ser verificadas, embora algumas teorias continuem a existir mesmo quando são cientificamente refutadas ou desacreditadas. Nenhum progresso técnico seria possível, a menos que determinadas leis físicas sejam aceitas, embora não haja garantias de que a lei se repetirá. No entanto, a ciência apenas pode lidar com teorias, não com certezas. Todas as conclusões científicas ou generalizações apenas podem ser prováveis em maior ou menor grau, segundo as precauções tomadas no uso das provas disponíveis, e o grau de probabilidade necessariamente decresce com a distância dos fatos empíricos ou com o aumento das variáveis desconhecidas, etc. Tendo isso em mente, a pessoa perceberá que não pode haver um verdadeiro conflito entre qualquer teoria científica e a Torá. Pelo contrário, uma cuidadosa análise das descobertas da ciência moderna e do seu significado filosófico mostra uma convergência e harmonia da ciência com a Torá. Muitos judeus atualmente se tornaram alienados da Torá e do estilo de vida judaico por causa do enorme, quase hipnótico, efeito de uma ciência aparentemente onipotente. Milhares justificam este secularismo pelo "fato" de que são "mais esclarecidos" que as gerações passadas. Muitos no campo religioso preferem ignorar (ou banir) a discussão do desenvolvimento da ciência e tecnologia, ou ajustar a Torá ao pensamento moderno. Na verdade, nenhuma atitude merece crédito. A abordagem correta é que não há motivo para o judeu observante de Torá ficar intimidado pela explosão da ciência e tecnologia, ou para tomar uma atitude apologética. Ele deveria sempre ter em mente o dito do Zôhar (vol. I pág. 161b): "D’us olhou na Torá e criou o mundo." Isso significa que a Torá é o projeto da criação, e o produto final (o universo) não pode contradizer o projeto (a Torá) pela qual foi projetado. Por definição, a Torá é a sabedoria Divina. Portanto, a Torá é a suprema e única fonte da verdade, completa e definitiva, o conhecimento sobre tudo, incluindo os objetos e os fenômenos que a ciência examina. O conhecimento da Torá brota de uma perspectiva "do Alto", ao passo que o conhecimento científico, obtido pela processamento racional de informação empírica, se origina "de baixo". Por fim, estas fontes irão convergir. Podemos esperar ansiosamente a Era Messiânica na qual a ciência, que em si é neutra, será elevada para servir a propósitos sagrados. Um maior desenvolvimento e análise científica nos ajudará a compreender os conceitos da Torá. A tecnologia levará o mundo a uma situação na qual, como Maimônides descreve a Era Messiânica, "não haverá fome nem guerra, inveja ou competição, pois as coisas boas fluirão em abundância e todos os deleites estarão tão disponíveis quanto o pó. A ocupação do mundo inteiro será somente conhecer a D’us." Por Nissan Dovid Dubov Rabino Nissan D. Dubov é diretor do centro Chabad Lubavitch em Wimbledon, UK. O conteúdo desta página possui copyright do autor, editor e/ou Chabad.org, e é produzido por Chabad.org. 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