SHEMA ISRAEL

Sinagoga Morumbi

Yeshiva Boys Choir -- Kol Hamispalel

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Doença repulsiva capaz de se espalhar como fogo e contagiar pessoas, móveis e paredes.

Acharê Mot


Nas duas últimas semanas a Torá se voltou para as transgressões que levavam à tsaráat, doença repulsiva capaz de se espalhar como fogo e contagiar pessoas, móveis e paredes.
Não à toa, nossos rabinos a compararam com a fofoca. O “yachne” não se dá conta de que o seu prazer contamina ao mesmo tempo a vítima da maledicência, aquele que a escuta e a si mesmo.
Cedo ou tarde, ele será afastado da comunidade para tratar a Síndrome das Más Línguas.
Nesta semana a Torá retorna para o dia seguinte às mortes de Nadav e Avihu. Aarão ficou mudo diante das palavras de consolo de Moisés pela morte trágica deles. Agora Deus pede a Moisés: “Fala para Aarão, teu irmão, não vir o tempo todo à santidade”. Não é porque Aarão ficou mudo que ficou conformado com o que aconteceu a seus filhos.
A leitura da Torá desta semana é muito pesada.
Parece não poupar nada nem ninguém.
O momento de dor de Aarão, quando o coração está alquebrado e aberto, paradoxalmente parece ser o mais propício para se advertir sobre o mal que a língua afiada pode fazer a outras pessoas. São ordenados sacrifícios para Deus e para Azazel.
O cabrito destinado a Deus será morto, sacrificado para expiar pelos pecados do povo; o outro, destinado a Azazel, será solto vivo, em direção ao deserto.
Qual cabrito será sacrificado para Deus e qual será enviado para Azazel é determinado por sorteio, pelo acaso.
Quem tem o melhor destino? Afinal, ao cabrito enviado para Azazel parece ter sido dada uma chance de dar meia volta e retornar vivo; ao primeiro não há alternativa.


Toda nudez será castigada? A chance de ir em direção ao inferno – e voltar


Aparentemente a Torá muda repentinamente de tema: “Nenhum de vocês chegará ao seu próximo... para descobrir a sua nudez”.
Numa leitura literal, são expostos os princípios do que Freud chamou, no século 20, de Tabu do Incesto. “Não sigam as práticas do Egito nem as de Canaã”, diz Deus a Moisés.
Em uma conta de chegar, resta somente o deserto – o mesmo deserto onde foi solto o cabrito em direção a Azazel.
Lemos uma sequência de ordens divinas para não nos aproximarmos do outro a fim de expor a sua nudez.
Proponho que esta dura passagem da Torá trata do mesmo tema das duas parashiot anteriores: lashon hará. O pecado não está na nudez, mas em quem expõe a nudez alheia e tem prazer em sangrar a vida alheia, prática esta altamente contagiosa.
A mesma parashá nos diz: “Ninguém de vocês comerá sangue... porque a alma de toda criatura está conectada ao sangue”.
Expor a vida privada de outras pessoas – que na maioria das vezes é mentir, é expor o que se supõe ser esta vida particular – é como lhe tirar o sangue e lhe ferir a alma.
Ninguém está isento de cometer o pecado da fofoca.
Mesmo sem intenção, pode acontecer de sermos o cabrito sorteado para ir ao deserto, em direção a Azazel.
Mas temos a chance de escolher se seguiremos adiante e faremos o inferno da vida alheia e da nossa própria, ou se daremos meia volta, cuidaremos de nossas vidas e não da vida dos outros.
Lemos após a Amidá este trecho do tratado Brachot: “Meu Deus, impeça a minha língua de falar o mal... e que minha alma esteja calma diante dos que falam mal de mim”.

Shabat shalom, de Jerusalém
Uri Lam

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